Perfume

Um dia o perfume vem acordar a vida que dorme, sonhando a esperança de vestir-se de alegria.

Já refeito do sonho, a lágrima teima em escapulir, sorrateira e infantilmente, para tornar-se então a mais fecunda emoção já contemplada.

É assim a vida! Ousada, protagoniza dramas existenciais fortes, mesclando e confundindo o trágico ao lírico.

E é justamente na intimidade desse desencontro que a imaturidade persiste ressurgir.

Doce encantamento!

Que certeza carrega o amanhã? Nenhuma senão o sentimento do qual seu “sentidor” é tomado e o qual não deve insistir em aprender, caso contrário, só fará espalhar pranto e dor.

Contudo, inexistem forças para gritar basta. O “basta” clama pela consciência, que já fragilizada, não pode mais ser retomada.

Ah, o coração... Mal sabe ele a inconveniência da dor que pode provocar...

O destino não é mesmo mágico...

O tempo, por sua vez, só faz amargar a vontade num vale sombrio de saudade.

Saudade do encontro que nunca chegou a ser, por isso o sonho se veste então de desencontro, pesadelo que perambula no infinito das turbulências de uma esperança que se esvai.

Nos seus mais íntimos solilóquios, o “sentidor” clama a saudade de um olhar lúcido...

Clama a vontade de uma voz serena, a calar profundamente a inquietude do coração...

Clama a vontade louca dos lábios maduros e seu gosto nunca antes provado, mas que parecem já tão conhecidos, como se nunca tivesse deixado de tê-los.

Clama a mulher de rara beleza, o ser humano que completa, que pode apaziguar incoerências; que pode amenizar incertezas; que ousa iluminar o inconcebível; que sabe sorrir o imponderável e que pode permitir sonhar o impossível.

São clamores que a verdadeira realidade sufoca.

Que pena! O destino não é mesmo mágico e contradize-lo não é justo e nem tão pouco aceitável!

Que pena!