Capítulos
Um capítulo melhor ou pior que outro é o que nos compõe.
Aquele em que as visitas eram bem-vindas e as risadas soltas ao vento. E outro em que uma delas é visitada no funeral. As lágrimas ocupam o espaço dos sorrisos.
Aquele em que você se vê juntando as primeiras letras e imagina estar no topo do mundo por isso. Mostra a todos o que fez, por mais singelo que seja. E, atrás de você, o responsável por isso, orgulhoso por saber que te ensinou a tabuada antes que a escola o fizesse.
Aquele em que você conversa com seu pai sobre as Guerras Mundiais. A revelação de que ele mesmo esteve em uma delas. De alguma forma, agora, também você esteve lá.
Aquele em que seu pai lhe fala o que é certo ou errado. As escolhas feitas a partir de então, baseadas nessas conversas.
Aquele remoto capítulo contado por ele mais sua mãe sobre quando você deu os primeiros passos sozinha. A alegria estampada em suas faces harmônicas.
Aquele em que você discutiu feio com ele e depois se arrependeu. Mas não foi pedir desculpas.
Aquele terrível capítulo em que você vê seu pai numa cama de hospital mandando-lhe o último beijo, com os olhos lacrimejando, a que você teria direito. E é correspondido por um coração cheio de dor e impotência.
Aquele capítulo que se repete: você perceber-se cada vez mais igual a seu pai e não ter essa presença para confirmar isso. E vocês rirem juntos.
Capítulos que são meus. Muito meus.