SOBRE A POÉTICA DO ESQUECIMENTO

I

Me faço uma poesia

e nesta poesia me esquecer nela

para quando lido ser lembrado

do que sonhei, divaguei, que vivi

em paginas, palavras e frases

algumas sem nenhum significado

outras com vários significados

outras com significados muitos herméticos.

Me fazer presente em signos e símbolos

me fazer presente nas palavras que me perco

me fazer presente estando ali permanecendo ausente

me fazer presente no interior que me conheço.

(ser inteiro em fragmentos reunidos quando lido)

II

Nesse jogo estranho e obscuro

paradoxo do esquecer para ser lembrado

construo todo um universo imaginário

do que eu sou para quem está me lendo

me tornado presente estando em nenhum lugar

real ou imaginária do agora

cercando por imagens várias

do que sou como sou

e como me deixo ficar.

Na medida em que vão me lendo

palavras vagas reunidas

torno-me mais familiar, mais presente

amigo, companheiro, deixo de ser distante

existe agora uma intimidade

tudo porque tornei-me poesia.

III

no processo de tornar-me poesia

vou me envolvendo em um jogo de palavras

e nessas palavras criando todo um significado

não passando de simples imagens mentais

do que vão me construindo

quando relacionam comigo na leitura

da poesia em que me tornei.

IV

Quando me constroem em imagens

na poesia em que me tornei e hoje sou

vejo agora como eu me esqueço

preso a uma imagem representativa

do que me produzi a ser presente

percebendo como fico ausente

na imagem verdadeira do que sou

permanecendo só em essência no esquecimento.

SB Sousa
Enviado por SB Sousa em 25/05/2010
Código do texto: T2278231
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