SOBRE A POÉTICA DO ESQUECIMENTO
I
Me faço uma poesia
e nesta poesia me esquecer nela
para quando lido ser lembrado
do que sonhei, divaguei, que vivi
em paginas, palavras e frases
algumas sem nenhum significado
outras com vários significados
outras com significados muitos herméticos.
Me fazer presente em signos e símbolos
me fazer presente nas palavras que me perco
me fazer presente estando ali permanecendo ausente
me fazer presente no interior que me conheço.
(ser inteiro em fragmentos reunidos quando lido)
II
Nesse jogo estranho e obscuro
paradoxo do esquecer para ser lembrado
construo todo um universo imaginário
do que eu sou para quem está me lendo
me tornado presente estando em nenhum lugar
real ou imaginária do agora
cercando por imagens várias
do que sou como sou
e como me deixo ficar.
Na medida em que vão me lendo
palavras vagas reunidas
torno-me mais familiar, mais presente
amigo, companheiro, deixo de ser distante
existe agora uma intimidade
tudo porque tornei-me poesia.
III
no processo de tornar-me poesia
vou me envolvendo em um jogo de palavras
e nessas palavras criando todo um significado
não passando de simples imagens mentais
do que vão me construindo
quando relacionam comigo na leitura
da poesia em que me tornei.
IV
Quando me constroem em imagens
na poesia em que me tornei e hoje sou
vejo agora como eu me esqueço
preso a uma imagem representativa
do que me produzi a ser presente
percebendo como fico ausente
na imagem verdadeira do que sou
permanecendo só em essência no esquecimento.