Expedição até Mim Mesma
Ontem revirei os textos que tenho guardados, expedição surpreendente até mim mesma.
Reli cartas de mim para mim mesma, com 12 anos. Uma menina fazendo as pazes com a mulher. Poemas encantados com a descoberta da palavra, com o olhar de poeta. Textos ingênuos, alguns bons, outros bem ruins, todos muito juvenis, escritos na adolescência. Cartões de amigos que não vejo há anos, promessas de amizade, com a pureza e intensidade dos 15 anos. Declarações de amor do primeiro namorado, do segundo, do terceiro, do derradeiro. Cartas escritas depois do término do meu primeiro amor. Um conto... “memórias póstumas de um quase amor”. Palavras, pensamentos, cartas, cartões, bilhetes, declarações, intenções, reflexões. Registros de minhas felicidades nos dias em que as vivi. Exorcismos de meus demônios quando precisei enfrentá-los.
Revirei os textos pensando em expô-los, mas logo vi que, para isso, não têm serventia. Falta coesão, falta direção, falta até mesmo qualidade na construção das frases.
Li há pouco tempo um texto da Elisa Lucinda que diz que o poema só tem serventia quando espelha o outro. Fora isso, são apenas desabafos, reminiscências desconexas.
E foi isso que vi dentro da caixa. Memórias, momentos, idéias. Escritas por mim mesma, mas ainda no princípio de mim.
Tudo bem, talvez, agora mesmo, estejam a Elisa e a menina rindo juntas... rindo das outras duas, da Lucinda e da mulher.
As duas primeiras sabem que as quatro bem conhecem a verdade. Que palavra é sentimento cristalizado no papel e, portanto, não precisa de serventia.
No entanto, condescendentes e risonhas, deixam que as outras duas organizem seus próprios motivos para não esparramar, em papel público, cristais que não conseguiram ainda digerir. Mais fácil deixar que as duas falem do que é comum aos outros, do que o outro espelha, do que já foi digerido, do que cabe em versos, se enquadra na narrativa, tem principio, meio e fim. O restante, indigestão de si mesmas, deixam que guardem na caixa.
(Abril de 2009)
Ontem revirei os textos que tenho guardados, expedição surpreendente até mim mesma.
Reli cartas de mim para mim mesma, com 12 anos. Uma menina fazendo as pazes com a mulher. Poemas encantados com a descoberta da palavra, com o olhar de poeta. Textos ingênuos, alguns bons, outros bem ruins, todos muito juvenis, escritos na adolescência. Cartões de amigos que não vejo há anos, promessas de amizade, com a pureza e intensidade dos 15 anos. Declarações de amor do primeiro namorado, do segundo, do terceiro, do derradeiro. Cartas escritas depois do término do meu primeiro amor. Um conto... “memórias póstumas de um quase amor”. Palavras, pensamentos, cartas, cartões, bilhetes, declarações, intenções, reflexões. Registros de minhas felicidades nos dias em que as vivi. Exorcismos de meus demônios quando precisei enfrentá-los.
Revirei os textos pensando em expô-los, mas logo vi que, para isso, não têm serventia. Falta coesão, falta direção, falta até mesmo qualidade na construção das frases.
Li há pouco tempo um texto da Elisa Lucinda que diz que o poema só tem serventia quando espelha o outro. Fora isso, são apenas desabafos, reminiscências desconexas.
E foi isso que vi dentro da caixa. Memórias, momentos, idéias. Escritas por mim mesma, mas ainda no princípio de mim.
Tudo bem, talvez, agora mesmo, estejam a Elisa e a menina rindo juntas... rindo das outras duas, da Lucinda e da mulher.
As duas primeiras sabem que as quatro bem conhecem a verdade. Que palavra é sentimento cristalizado no papel e, portanto, não precisa de serventia.
No entanto, condescendentes e risonhas, deixam que as outras duas organizem seus próprios motivos para não esparramar, em papel público, cristais que não conseguiram ainda digerir. Mais fácil deixar que as duas falem do que é comum aos outros, do que o outro espelha, do que já foi digerido, do que cabe em versos, se enquadra na narrativa, tem principio, meio e fim. O restante, indigestão de si mesmas, deixam que guardem na caixa.
(Abril de 2009)