Eleeeu

Ele apareceu de forma arrebatadora e surpreendente. Ele era mórbido, era uma morte tranqüila e desesperada de um afogado no rio. Era pra mim a minha própria morte. Eu deveria ser a heroína. O meu papel era salvá-lo, mas eu me enganei. Eu fui a vítima.

A sua tristeza aparentemente tão serena me tranqüilizava, me viciava, me deixava triste e ao mesmo tempo me apaixonava. Ele era o tipo de pessoa com a qual eu não queria envolvimento, mas já era tarde demais, eu estava envolvida. Como se eu tivesse olhado para o poço e ele tivesse me puxado, a água estava tão fria que eu não consegui sair. É como voltar a ser quem eu não queria lembrar que existia em mim. Eu fujo, eu fugi, e ainda continuo correndo com todas as minhas forças. Ele tem algo que tira minhas forças, me sacode e pergunta quando eu deixei de ser assim. Já tentei explicar, eu mudei, eu não sou assim, eu ainda sou como você. Eu não queria, não tive escolha. Meu coração escolheu por mim, você me trouxe de volta de onde eu já saí. Vou voar. Construir novas asas. Vou tentar sair do lugar em que me deixas. Vou olhar além do que me mostras. Vou abandonar esta tua morte melancólica. Vou deixar de ser quem eu era, quem tu és, quem eu sou. Dê-me a mão e podemos pular juntos de um penhasco ou fique e enterre todas essas suas mágoas. Eu vou encantar-me por um mundo genial, um mundo fora do real, um mundo meu onde as suas sombras não existem. Estou indo enveredar outros caminhos, explorar novas fantasias. Estou seguindo e deixando a sua melancolia. Eu não consigo, a água é fria demais, o poço é fundo demais, as asas são pesadas demais, a vida é viva demais, a morte é morta demais, você sou eu demais.