Dia-a
Lama anti-heróica. Vertente da alma humana. Preenche sucessivamente meu corpo e meu sexo. Me toca por baixo, explode, arranha o muco que escrotamente grudou no meu peito. Me encontra na sala, liga a TV, não quero papo. Me puxa, arranha, arranha, arranha.
- Olha a nossa volta, Caralho, pinga, pinga, pinga. Pára. Pinga, pára, pinga, pára, pinga, fechei.
Sobre e sob a mesa, chão, parede, estante, parede, chão, chão. Pausa. Lubrifica, massageia, penetra, age, exonera. Acende um cigarro, dá uma mijada, dorme.
Cabeça. Ardor, 9, fecha a cortina, volta, remexe, entorna. Careta, “acende pra mim?”, traga, solta, olha, silêncio. A memória retoma como uma criança má que pensa na maldade, mas se engana, aprazeria o encéfalo e fecha os olhos. O umedecer do tronco ao ser engolido é insubstituível, expandi-se, jorra, banha, refresca.
Maresia corpórea, um beck. Me deleito da presença alheia, 13 minutos após outro beck, esse no ônibus, hora de voltar. Pra variar, nada mudou. Morfeu ainda me espera no pé do fogão, os controles no sofá desemparelhados pra quebrar a simetria, um par de meias no chão do quarto, um cara no meu espelho e eu a olhar pra ele. Pensando se a vida pode ser explorada, se ela nos dá essa chance de escolher, de pirar. Tranco a porta, térreo por favor. Morgação e calor, inseparáveis na luta a favor do meu auto-homicídio. Força e técnica, morte.