N
uncaMais a Saudade...
  
Cansei de sentir saudade, de ficar sozinha, olhar o horizonte em busca de seu olhar, olhar-me no espelho apenas para ver o reflexo de seus olhos nos meus...
De deitar-me sozinha, buscar seu corpo nos cheiros dos lençóis, no gosto do beijo adormecido em meus lábios, nas carícias guardadas para quando você voltar...
De esperar o telefone tocar para ouvir sua voz falando de um amor sereno e caudaloso, apesar da escassez do tempo; de ligar o computador para ter notícias de seus desejos e sonhos...
De deitar-me sozinha na rede para olhar nossa lua, plena de lembranças, minhas e suas...
De chorar baixinho para não acordar as dores da solidão, de sorrir apenas com os olhos, por ter nos lábios o sorriso que quer desabrochar em sua boca, tão minha...
Cansei de nós dois!
 
Por isso tomei uma decisão. Vou aprender a viver sem você. Nunca precisei de ninguém para me fazer feliz. Nunca morri depois de uma despedida. Ao contrario, sempre aprendo um pouco depois do adeus.
Decisão tomada é hora de arrumar espaço para um novo amor. Comecei a limpeza pelos armários. Percebi que já não há muita coisa sua por aqui. De tanto viver fora, o guarda-roupa foi ficando vazio. Como havia pouca coisa resolvi deixar tudo lá. Não está ocupando muito espaço; diferente de sua presença em mim, que ocupa todos os espaços...
Fui para nosso arquivo. As cartas, e-mail’s, bilhetes, poesias. Decidi não rasgar. É quase um crime jogar fora os registros de uma longa e bela história de amor. Coloquei-os de volta no lugar, afinal, tudo que está lá, já foi gravado em meu pensamento, faz parte do ar que respiro...
Ah! As fotos. Quais ficarão comigo? Olhei-as uma a uma. Não tive coragem de desfazer-me de nenhuma. Verdadeiras relíquias. Quantas histórias elas contam de nossas viagens, nossas férias, nossos passeios de finais de semana, cenas do cotidiano. Não, melhor guardar os álbuns, aquelas imagens são partes importantes de minha paisagem mais sagrada...
 
Senti-me aquecida por uma grande ternura. Uma sensação de pertencimento tomou conta de meu corpo e abraçou minha alma. O amor novo que fui buscar estava ali. Onde sempre esteve. Cravado em meu coração como uma marca feita a ferro e fogo.
Não adianta lutar conta o que nos une. A distância, a ausência, a falta de tempo, as longas viagens, nada do que nos afasta é capaz de nos separar. Cada encontro, cada ligação, cada momento de saudade e espera é apenas um capítulo a mais nesta longa história de amor que escrevemos com sonhos, realizações, carinho, respeito e muita cumplicidade.
Se, algumas vezes, a saudade é tamanha que parece maior que nossa capacidade de suportá-la, o amor se reconstrói na certeza do reencontro, na fortaleza de nossos sentimentos, nos pequenos gestos de carinho, no acolhimento, no olhar que cruza fronteiras e se encontra, mesmo quando os olhos não conseguem alcançar.
 
Há um mundo inteiro que cabe no seu sorriso, e é neste o mundo que vivo meus sonhos, realizo minhas fantasias mais loucas/bobas. Somos parte um do outro. Sua voz revela isso, seu olhar me diz que ainda há muito para vivermos. Seu abraço acolhe tudo que há mim com a simplicidade de quem colhe uma flor no campo. Seu beijo ler minha alma e traduz tudo que espero de um homem.
O companheirismo, amizade, carinho, lealdade, sexo, paixão, segredos compartilhados, silêncios respeitados, palavras emudecidas pelo olhar, abraços de entendimento são fragmentos de um tempo que já é eterno em nós, pedaços de nosso viver que sempre caminharão conosco, independente de onde estajamos...
Não meu amor, ainda há vida neste amor que, neste momento, agoniza de saudade.
Nunca mais a saudade me fará pensar em desistir de você... 
 

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 22/05/2010
Reeditado em 22/05/2010
Código do texto: T2272275
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