[Uma Rua Parada]

Não um porto parado como disse o Mario Quintana, mas uma rua... sim, uma rua parada! É o que eu quero!

Uma rua silenciosa, uma rua já quase entardecida onde pardais ainda pudessem catar as sementes trazidas de longe pelos ventos, e lançadas por entre as gretas das pedras.

Uma rua como aquela que perdemos ao destruir o nosso sistema educacional, ao lançarmos os nossos mestres no desprezo, no descuido.

Uma rua que falasse da nossa capacidade de manter uma cidade para as pessoas que nelas vivem, e não fossem, como são agora, pastos de bandidos.

Uma rua parada. Mas não no tempo, não no cosmos que nunca se aquieta, nunca! Mas uma rua parada onde uma criança pudesse brincar livre, livre até o grito da mãe cuidosa, como eu brinquei nas ruas da minha infância em Araguari.

Uma rua em que os poetas e os boêmios pudessem andar madrugada afora, com seus violões plangendo saudades, amores, paixões.

Uma rua onde rosas vermelhas, rorejadas do sereno da noite, apenas esperassem a hora de serem colhidas e deixadas na janela da mulher amada.

Uma rua parada... e sem o uivo louco dos alarmes eletrônicos que apenas criam uma sensação de segurança - falsa sensação!

E agora, o que temos agora? Uma rua não-parada... uma rua violenta carente da profilaxia que só uma cavalaria com longos sabres pode promover. Uma cavalaria que criasse nos espíritos dos bandidos a incerteza, a insegurança que eles criam em nós, cidadãos indefesos — a incerteza agônica de permanecer vivo!

Agora, agora, é triste... as ruas que temos para viver são ruas em que todos os argumentos, as soluções lenientes já se esgotaram, ruas pichadas, sujas, infectadas de escroques — ruas onde a palavra é silenciada, para sempre, pelo cão, pela sinfonia maldita das armas. Ruas silenciadas pelo pior dos "gigantes da alma" - o medo! Ruas da secura do silêncio! Ruas que expulsaram a poesia.

[Penas do Desterro, 22 de maio de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 22/05/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2271940
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