Revelação [ ou SIM ! ]
Sim ! A vida. Subproduto da Arte.
Tentar entendê-la ?
Esforços empenhados em vão, não ?
Melhor mesmo senti-la assim - no estágio mais puro e
instintivo que ainda pudermos alcançar.
Sim, isso dói. Sim, dilacera. Sim, dá prazer.
E tudo o que se sente é custo-benefício abstrato.
Créditos e débitos do exercício de SER.
O desconhecimento de si próprio pode ser avassalador.
O pleno conhecimento também.
Mas nada que justifique o medo de olhar-se dentro.
Inebriado e ofegante...
Sim. Ousa. Vasculha teus espaços internos.
Tuas limitações extremamente mundanas. Efêmeras.
Teu EU material contemplando o volteio orbital do tempo.
Elemento sutil a roubar-te de ti mesmo.
Ah, esse inexorável tic-tac dos relógios...
Essas imperiosas máquinas de matar, a lembrar-nos a cada
segundo que nossa vida escoa de modo incontrolável e absurdo.
A tornar mais doloroso o derradeiro cerrar das cortinas.
Mas não seria limítrofe a própria existência ?
Esse hiato inquietante e bravio a entrançar infinitos,
quando intrinsecamente permite-se permear-se por eles, na
trama silenciosa que costura tempo e espaço em
intermináveis dimensões ?
Sim ! Haverá vida após a escuridão do backstage.
Haverá fios luminosos , minúsculos holofotes riscando-te
o caminho...
Sim ! É isso. Caminha. Saberás aonde chegarás.
E lá estarão teus olhos. Ansiosos e benditos.
Semi-plenos. Semi-ardidos. Semi-perplexos.
Semi-lúcidos. Semi-doces. Semi-deuses.
Famintos da Luz eterna a brilhar-te inteiro. E intenso.
Mas isso virá depois de longo exercício.
Pratica-o incansavelmente.
Primeiro faz-te tela alvíssima. Eleva-te em puro pensamento.
Depois, faz-te Arte, pois nesta reverbera tua única salvação.
Vá colorindo-te a alma. A cada dia. A cada dor.
A cada lágrima - de chegada ou partida.
A cada aroma sutil de infindável alegria.
Porque é preciso ter em si todas as cores para dispor-se em transparências...
SIM !
Claudia Gadini
28.08.06