[Contradições]

Porcas, parafusos, chaves de fenda,

alicates, amarras de nylon, arco-de-serra;

ou sentir-se um jardim velho que, ensandecido,

revolta-se, e explode em brotações, florescências?

Furadeira com broca de concreto,

parede dura se ser vazada,

vai necessitar furadeira de martelete;

ou a decisão não perder a parada,

e apelar para uma combinação de hardware/software

para extender o alcance da rede wireless?

Pensamento turvo de esquecer toda esta merda,

aparelhos de DVD mal-comportados, virus no PC,

redes wireless sem alcance suficiente,

conversão de formatos de video, placas de video,

e voltar à saudável era lenta,

dos sinais de fumaça, dos tambores?

Um sujeito que oscila entre o labor

numa máquina letal de microondas

pulsada a vários megawatts,

e aquela busca insana da poesia,

essa coisa que ninguém mais quer?

Vivendo num tempo tão violento, tão violento,

mas desarmado pelos ecochatos que dominam o país,

num tempo em que a urbe, as ruas pertencem

ao tráfico, ao crack, aos travecões malditos...

e, por cima de tudo isto, tentando manter a lucidez?

Tudo que vejo, toco, como, bebo

é sujeito a questionamentos, contradições;

que tempo maldito é este, afinal?

Nem um romano vivendo a queda de Roma

sitiada por bárbaros, sentiu, ou viveu a morte

de forma tão presente como se vive agora!

[Penas do Desterro, 21 de maio de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 21/05/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2269813
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