[Contradições]
Porcas, parafusos, chaves de fenda,
alicates, amarras de nylon, arco-de-serra;
ou sentir-se um jardim velho que, ensandecido,
revolta-se, e explode em brotações, florescências?
Furadeira com broca de concreto,
parede dura se ser vazada,
vai necessitar furadeira de martelete;
ou a decisão não perder a parada,
e apelar para uma combinação de hardware/software
para extender o alcance da rede wireless?
Pensamento turvo de esquecer toda esta merda,
aparelhos de DVD mal-comportados, virus no PC,
redes wireless sem alcance suficiente,
conversão de formatos de video, placas de video,
e voltar à saudável era lenta,
dos sinais de fumaça, dos tambores?
Um sujeito que oscila entre o labor
numa máquina letal de microondas
pulsada a vários megawatts,
e aquela busca insana da poesia,
essa coisa que ninguém mais quer?
Vivendo num tempo tão violento, tão violento,
mas desarmado pelos ecochatos que dominam o país,
num tempo em que a urbe, as ruas pertencem
ao tráfico, ao crack, aos travecões malditos...
e, por cima de tudo isto, tentando manter a lucidez?
Tudo que vejo, toco, como, bebo
é sujeito a questionamentos, contradições;
que tempo maldito é este, afinal?
Nem um romano vivendo a queda de Roma
sitiada por bárbaros, sentiu, ou viveu a morte
de forma tão presente como se vive agora!
[Penas do Desterro, 21 de maio de 2010]