QUANDO SANGRA O CORAÇÃO

“... Como viver o mundo

em termos de esperança?

E que palavra é essa

que a vida não alcança?

Carlos Drummond de Andrade”.

Quanto aos “grilos”, não deixa que eles cantem muito, principalmente à noite, quando a solidão bafeja nos cigarros e no vinho... E como já é quase inverno, não há nem como contar com as cigarras nos beirais... Nas invernias, as formigas se arrinconam só para ficar juntas. Assim não tremem de frio, nem arquejam de tosse. E a fome fica longe, graças ao trabalho diuturno, nas estações do sol. Mesmo assim, suas antenas farejam as ameaças daquilo que lastima o corpo, e retraem as patinhas. O jaboti esconde a cabeça debaixo do casco, num ritual de defesa. E o caracol, lento (porém sabido), revolve-se debaixo de sua casa estrutural...

O que registrar de nós, enquanto sangra o coração e a cuca rumina suas mais profundas tessituras?

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/2268935