Via-crúcis
Anos, vos louvo com meu profundo pesar!...
Vossos embustes, servis flambados em ópio...
O frescor da aurora inebriou-me os sentidos...
Por anos, o peso calou-se nos meus ombros,
Hercúleos e viçosos; o espírito, indelével,
Mas hoje, em traços, a morte fria se mostra;
Malfadados planos de glória eterna jazem...
A vida é lampejo, resta apenas poeira;
Poeira que se vai, Josés que sempre partem...
No início, descoberta se faz a todo instante;
Só de graça, preenche-se o espírito humano.
Depois, alternando-nos, seguimos caminho...
Idos de gloria... outros funestos... idos vazios...
A vida se esvai nas mentes insanas despertas,
E a tragédia nos consome os dias que restam...
O porre amigo ensina que os anos são bons,
E, de fato, o são, se não são tantos!...
E o deserto dissimulado assim vem chegando,
Consumindo-nos cada glóbulo de ser,
Enterrando-nos com as fantasias mortas,
Os sonhos ressequidos, a carcaça carcomida...