Via-crúcis

Anos, vos louvo com meu profundo pesar!...

Vossos embustes, servis flambados em ópio...

O frescor da aurora inebriou-me os sentidos...

Por anos, o peso calou-se nos meus ombros,

Hercúleos e viçosos; o espírito, indelével,

Mas hoje, em traços, a morte fria se mostra;

Malfadados planos de glória eterna jazem...

A vida é lampejo, resta apenas poeira;

Poeira que se vai, Josés que sempre partem...

No início, descoberta se faz a todo instante;

Só de graça, preenche-se o espírito humano.

Depois, alternando-nos, seguimos caminho...

Idos de gloria... outros funestos... idos vazios...

A vida se esvai nas mentes insanas despertas,

E a tragédia nos consome os dias que restam...

O porre amigo ensina que os anos são bons,

E, de fato, o são, se não são tantos!...

E o deserto dissimulado assim vem chegando,

Consumindo-nos cada glóbulo de ser,

Enterrando-nos com as fantasias mortas,

Os sonhos ressequidos, a carcaça carcomida...

Éder de Araújo
Enviado por Éder de Araújo em 27/08/2006
Reeditado em 08/07/2008
Código do texto: T226746
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.