[Sem Agenda]

[Ah, se eu não me relesse...]

Na tarde sem pressa de morrer,

Ruas calmas conduzem-me ao lar;

Ali, tocadas de penumbra e silêncios,

Suavizam-se as cortantes arestas das coisas.

Sobre a mesa nua, o jornal velho,

A faca sem corte, o pão de ontem;

E perto da janela, as flores amarelas,

Último cuidado de suas belas mãos!

Ela não vem: estou só e não espero ninguém;

Mas não me importa estar sozinho,

E nem tampouco se a casa está fria;

Nada importa — exceto o medo de perdê-la!

A minha frente, tenho uma noite vazia,

E o copo de vinho fará o milagre do sono.

No dia seguinte, picado de amargura,

Olharei aquele vaso de flores amarelas,

Pensarei que ainda há pouco ela as tocou;

Depois, vestirei minha capa de gabardina,

Fecharei a porta da casa silenciosa,

E, bem devagar, caminharei pela calçada.

Ruminarei as minhas velhas esperanças,

E me direi novamente que a vida é morte.

O meu dia será como todos os outros:

Vazio, sem compromissos — sem agenda!

[Penas do Desterro, 22 de setembro de 2000]

Sim, fui e sou doente a ponto de escrever coisas assim!

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 19/05/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2266675
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.