[Sem Agenda]
[Ah, se eu não me relesse...]
Na tarde sem pressa de morrer,
Ruas calmas conduzem-me ao lar;
Ali, tocadas de penumbra e silêncios,
Suavizam-se as cortantes arestas das coisas.
Sobre a mesa nua, o jornal velho,
A faca sem corte, o pão de ontem;
E perto da janela, as flores amarelas,
Último cuidado de suas belas mãos!
Ela não vem: estou só e não espero ninguém;
Mas não me importa estar sozinho,
E nem tampouco se a casa está fria;
Nada importa — exceto o medo de perdê-la!
A minha frente, tenho uma noite vazia,
E o copo de vinho fará o milagre do sono.
No dia seguinte, picado de amargura,
Olharei aquele vaso de flores amarelas,
Pensarei que ainda há pouco ela as tocou;
Depois, vestirei minha capa de gabardina,
Fecharei a porta da casa silenciosa,
E, bem devagar, caminharei pela calçada.
Ruminarei as minhas velhas esperanças,
E me direi novamente que a vida é morte.
O meu dia será como todos os outros:
Vazio, sem compromissos — sem agenda!
[Penas do Desterro, 22 de setembro de 2000]
Sim, fui e sou doente a ponto de escrever coisas assim!