[O Acalento da Fragilidade]
[Atenção: texto em construção!]
Só falo do que vivo, e não sei lidar com ficções;
nunca a gente diz tudo, e eu nem daria conta de...
Eu incerteava: Adágio... Andante... ou Allegro?!
O gozo se assemelha a um cavalo fogoso, contido;
e se ela soltasse os freios? Mas eu me agüentava...
Olhava os contornos daquela bunda semovente,
láctea carnadura, dançante, circulante, macia,
sob o meu corpo... Eu a segurava pelos flancos,
e estava à beira do abismo, a corda escapando já...
Eu pensava... eu tentava... eu queria... eu ia cair...
Ela percebeu a minha ansiedade latejante;
lentamente, virou a cabeça no travesseiro,
seu rosto lindo e calmo surgiu, assim, de lado,
por entre os revoltos cabelos castanhos,
e, com uma ternura imensa, de me fazer chorar,
perguntou-me em tom de já saber a resposta:
- "Ah... que medo é esse?! Respira fundo...
lembra daquelas paisagens calmas... "
E mostrando o domínio que só as fêmeas têm:
- "Vem... eu levo você, no seu ritmo - adágio?"
Como ela sabia?! Concordei, desconexo:
- ah... tem de ser, eu preciso... não suporto
tanta beleza, a sua beleza... ah... eu... "
E, perdido numa inundação de carinho, eu a senti
saber-se dona do ritmo que doma um cavalo,
saber-se deusa dos mistérios ocultos no corpo,
saber-se equilibrar entre a dureza e a suavidade...
Ah... essa plangência a dedilhar nas cordas do desejo:
um acalento para a minha fragilidade masculina.!
Daí em diante, numa calma vinda sei lá de onde,
montamos juntos, o cavalo alado do prazer,
e juntos, juntinhos, trêmulos do nosso gozo,
voamos por entre as belas montanhas azuis...
Afinal o que poderia ser mais inenarrável do que estar
na graça de uma mulher que tem a incrível força, o poder
de reconhecer e acalentar a fragilidade do homem?!
Agora sei: se tive essa sorte, até já posso morrer...
[Penas do Desterro, 15 de maio de 2010]