O poeta e a poesia
Quando ouço passos aflitos, escondo-me em um canto; temo ser o próprio a correr. Às vezes reflito sobre minha condição, e perco-me em busca de indícios que me levem à minha real concepção, a desagradável busca de abrigo. Encolhido em meio à miséria, observando o caminhar de uma multidão, perfeitos invólucros da sempre abastada e nem sempre frágil solidão. Como arestas de um amor contido, aparadas com sofreguidão e lamento, observo o canto solitário da incólume razão, aprecio sua agonizante tentativa. Porém quando ruídos afastam-se, e percebo estar novamente só, ergo-me de sobressalto, arrumando solenemente meus andrajos; abrupta decisão... Rapidamente caminho em sentido oposto à perfeição, para um dia novamente reencontrá-la, no absurdo círculo de nossas divagações. E então, como seres míticos, ao certo nos despistaremos novamente, temerosos da miséria e do cômico na tragédia de nosso encontro...