*VOCÊ VEM*
As lágrimas escorriam com a freqüência de dias que se faziam cinzentos, até que, num repente, o sol desvirginava as nuvens. Ultrapassava ferindo e, assim, abria uma nova possibilidade de tornar o céu azul.
Esse momento para mim era mágico e procurava trazê-lo em minha direção como um sorriso seu. Fiquei imaginando por quantos dias chorei enquanto esperava por você e esperava pela nossa manhã incandescente. Tudo de que me lembro é dos matizes acinzentados e magoados que meu espelho expunha de forma tão dolorosa e menina, ao mesmo tempo em que me sentia velha...antiga como o Mar Morto.
Construí, naquele tempo, algumas pontes seguras, pelas quais pude passar e por onde vi passarem pessoas que me são caras e outras que...nem tanto. Enfim, é muito bom saber que tais pontes serviram para muitos, mesmo que ninguém mais saiba que fui eu quem as construiu.
O caso é que, enquanto eu as construía, meu suor se misturava às lágrimas e eu ficava perdida em pensamentos sobre nós. Sua mão estava tão distante quanto seus olhos e me parecia impossível ter você por perto, por mais que as evidências sugerissem o contrário. É que o vento soprava forte, vinha do Norte e trazia você, aos poucos, para mim.