[Dançando nas Chamas]
[A salamandra?? Não sei, nunca vi, descreio...]
Hoje estou com saudade dos morros em chamas...
o capim ressequido a arder na noite de mistérios,
o fogaréu caminhante nas cristas dos morros,
e a sede da fazenda ainda longe, longe...
Nas narinas, o cheiro da queimada,
na mente, as visões, as sombras entre as chamas,
o diabo à solta na noite, dançando nas chamas!
Este cheiro de ossos queimados: criação ofendida
de cobra, caída nas encostas do morro, arde...
Viajo no tempo... Minas não vai ser mais, nunca mais,
e morro, morro... e este passado amontoado em mim
não me deixa em paz - marcado a fogo, pelo fogo?!
Ouço o chiado do ferro de marcar, a rês esperneia,
o cheiro do couro queimado enche-me as narinas -
eu sei que estou longe, para sempre longe...
Resta o quê? Resta a morte, uai...
Errei tudo, errei a lição, errei de rumos,
e para uma vida inteirinha errada - só a morte!
Junho chegando... e hoje, bateu uma saudade danada,
uma saudade daquelas noites de queimadas,
quando o diabo dançava nas chamas,
e eu tinha a vida inteira para queimar!
Agora, danço eu nas chamas da lembrança!
[Penas do Desterro, 15 de maio de 2010]