[Dançando nas Chamas]

[A salamandra?? Não sei, nunca vi, descreio...]

Hoje estou com saudade dos morros em chamas...

o capim ressequido a arder na noite de mistérios,

o fogaréu caminhante nas cristas dos morros,

e a sede da fazenda ainda longe, longe...

Nas narinas, o cheiro da queimada,

na mente, as visões, as sombras entre as chamas,

o diabo à solta na noite, dançando nas chamas!

Este cheiro de ossos queimados: criação ofendida

de cobra, caída nas encostas do morro, arde...

Viajo no tempo... Minas não vai ser mais, nunca mais,

e morro, morro... e este passado amontoado em mim

não me deixa em paz - marcado a fogo, pelo fogo?!

Ouço o chiado do ferro de marcar, a rês esperneia,

o cheiro do couro queimado enche-me as narinas -

eu sei que estou longe, para sempre longe...

Resta o quê? Resta a morte, uai...

Errei tudo, errei a lição, errei de rumos,

e para uma vida inteirinha errada - só a morte!

Junho chegando... e hoje, bateu uma saudade danada,

uma saudade daquelas noites de queimadas,

quando o diabo dançava nas chamas,

e eu tinha a vida inteira para queimar!

Agora, danço eu nas chamas da lembrança!

[Penas do Desterro, 15 de maio de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 15/05/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2259252
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