A esperança é a última que morre...
Na sala há um divã rasgado,
Cadeiras toscas,
Móveis antigos
E eu com cara de menino!
Menino que não cresceu,
Que ainda procura seus brinquedos,
Que chupa picolé,
Que joga futebol,
Que brinca de bola de gude...
Na sala há uma televisão velha,
Um rádio de pilha que não funciona,
Uma bicicleta enferrujada
E eu no parapeito da janela observando as cinderelas!
Moças novas, donzelas,
Com ou sem namorado
Que vivem a passear,
Talvez em busca do que fazer...
Na sala há um tapete sujo,
Quadros sem graça na parede,
Dois armadores de rede
E eu perguntando se o almoço está pronto...
Para curtir as delícias da velha aia,
Para tomar refresco de canudo,
Depois sair batendo a porta
E indo azucrinar a paciência do cachorro...
Na sala há um vento que corre,
Que assobia bem alto nos ouvidos,
Que expulsa o calor causticante
E eu molhado de suor brincando de esconde-esconde!
Com meus amigos vizinhos
Que buscam sujar a casa alheia,
Que gritam nos corredores e nos quartos,
Que pulam a cerca e correm atrás de uma pipa...
Na sala há tudo isso,
É a sala das minhas lembranças,
Tempo bom, tempo sem compromissos,
E eu agora adulto, quase velho, ainda cheio de esperanças!