[A Linguagem Atônita do Silêncio]
[... e se ando a respigar em velhos campos - o que importa?]
Sou rude mesmo: não, decididamente, eu não compreendo a linguagem do silêncio! Ignoro, desconsidero quem só me dá silêncios... O silêncio é o criame da solidão, do medo, da suspeita. Muralhas de silêncio, ainda que erguidas a meu favor, de que me servem, se até mesmo em sonhos elas caem sobre mim?
A linguagem atônita do silêncio me assusta, me espanta... No mar inextenso onde surge a vela branca do silêncio, eu não diviso o norte, desoriento-me. E mais grave ainda: há silêncios também na fala rápida e vertiginosa, que não dá tempo ao passeio interrogante do olhar, que nem espera minha respiração completar um ciclo.
O silêncio abre cavernas até na lua... e de que adianta agitar uma lanterna no fundo da caverna que o silêncio abre em mim, se a estrada mesma passa é na superfície...
Sou rude assim: ninguém conseguiria me ensinar sobre silêncios... alguém a dizer-me assim, em linguagem de pedra de espera, que gosta de mim?! Ah, descreio! Nunca posso provar da minha própria carne de ser, mas acho que seria mesmo assim, insípida...
[Penas do Destero, 06 de maio de 2010]