Sangue

É só o tempo, que o tempo tem, do instante em que a àgua sai pelo cano até pingar na lata pra se misturar ao sangue, que de mim escorre.

É por um momento, enquanto me disperso da moralidade e me deito em um colchão sem dono, dobrado e torto.

Nasci escrevendo versos tão brancos quanto livres e é por isso que me desprendo e fujo da certeza das coisas do mundo.

Assassino a minha sombra e mato com um só golpe a ti- midez nela contida. Isso ocorre em alguns dias de noites beijadas, de mares solitários, de copos vazios e de cabelos embaraçados.

Tenho escrito sobre o que fica, tenho estado em bares, tenho feito manifestos e beijado a boca de um ser, cuja existência é duvidosa.

Tenho também amado com um amor intolerado; Todavia, tenho feito disso o meu vértice, minha verdade, a mais antiga espera, minha única alegria.

Por isso vim aqui pra te olhar devagar os olhos, pra saber-me tua, pra sentir o real gosto do leite que de ti emana e o jeito que tem as tuas mentiras.

Quero agora, antes que eu me perca, antes que eu esqueça, antes que eu confunda, tua cabeça no meu colo e as tuas mãos nas minhas.

Então, não demora, não repara e nem invade a minha vida. Olha pra mim e me despe lentamente como quem despe uma alegria e deixa que apareça a verdade, por debaixo do que havia.

Assim, poderei então; Quem sabe? Ser mais alva do que sangue naquele instante em que a lata se precipita. Ser mais nua do que posso, ser mais minha do que tua.

Eu:Tânia

Em:28/04/2010

Tânia Fonini
Enviado por Tânia Fonini em 08/05/2010
Reeditado em 07/06/2010
Código do texto: T2244327
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.