Amor, inventei que você era um livro.
Amor, hoje vou ter um encontro com você, mas você não sabe.
Inventei que você era um livro.
Leio-o o dia inteiro e nem sei mais se é você ou ele.
Abro-o. Te abro. Sinto a tua presença no balanço das páginas. Você está aqui comigo e estamos tendo uma longa conversa agora. - Amor, você tem um pé de laranja lima?
Passam alguns minutos, algumas horas e cá estou eu, completamente hipnotizada na sua superfície e no que ela diz, você sussurra as suas letras, a alegria do Menino Diabo, seus cantos... esconderijos... a dor do Menino Deus... alguns minutos...
...Junto com os livros, deveriam vir prendedores para que eu jamais pudesse fechar os olhos;
Amor, meus olhos já estão ardendo casados, mas se eu os fechar, você some. Fechar o livro agora me parece tão doloroso quanto a ânsia pelos dias que eu nem sei se virão, quanto o silêncio dos espaços, da contra-capa. O seu silêncio.
Tenho uma solução: Vou te colocar aberto sobre o meu peito e te abraçar bem forte para que você não desapareça. Amor, vou falar bem baixinho agora para não te acordar, tá?... Acho que deu certo, já posso... dormir, estou... mais calma... durmo.
...
Amor, acorda...
...preciso te contar. Hoje pensei que eu também podia te mostrar meus livros! Daí eu te contaria histórias em versos cheios de encanto. Meu livro não tem aventura, não tem histórias do Tom Mix e do Buck Jones, muito menos aparece o Fred Thompson ou o Richard Talmadge. Gosto daqueles que confundem os pensamentos, a rosa mágica, que enxergam flores em copos vazios; que conta do amor pelo amor, meu amor.
Amor, te chamo de amor não porque quero, foram as páginas; e elas não têm outras palavras que não te chame amor. É culpa delas, meu amor. Se juntaram com as letras e eu nem posso apagar, estão escritas à tinta. Não depende de mim, só as posso ler. Amor não se escreve à lápis.
"Tens no teu olhar a luz celestial que me faz crer... Ver uma irradiação de estrelas a brilhar no espaço sideral. Juro até por Deus, que mesmo lá nos céus não pode haver, olhos que me seduzam tanto quanto os teus..."
Amor, você está ficando cada vez mais cheio, e as páginas estão diminuindo. De quantos livros eu preciso para te conhecer? Porque acho que você não cabe nestas páginas. Você é grande, amor, e as páginas só diminuem. Estou preocupada com isso. Sem falar nos espaços que existem entre as linhas, espaços são pausas em branco onde você não está. - Entrelinhas. Odeio espaços!
Amor, você está aqui, agora. Mas se precisar ir embora, mesmo que seja pra nunca mais voltar, ou mesmo que seja só pra brincar de se esconder, pode ir. Não se preocupe comigo, vou ficar bem. Só te faço um pedido: Dê-me mais livros para que eu possa ler.
"Lá se foi o marinheiro que eu tanto amava..."