Disseram que haveria uma luz...
Mas não há nada assim fulgurante...
É frio, é escuro e vazio, silencioso...
Medo? Não! Uma leve sensação de angústia
Um aperto sei lá onde dentro do peito
Uma inquietação profunda, imensa ansiedade
Sensação de flutuar, como numa queda vertiginosa
Não parece queda, pode muito bem ser voo
Com certeza é deslocamento, movimento intenso
A última lembrança? Saindo do trem ainda agora
A mesma plataforma, as mesmas escadas de sempre
Mas lá fora não era o mesmo lugar, não era um lugar
Era uma sensação de lugar, talvez como num sonho
(Nos sonhos se corrompe tempo e espaço)
Depois das escadas, tudo desaparece, dissipa-se
A luz? Haveria uma luz, disseram tanto isso...
Não passaram na memória todos os momentos da vida
Era como se todos os momentos estivessem aqui
Mas repletos de significados, plenos de esquecimento
Nesse ínfimo instante, imperceptível, eterno e infinito
E todos os lugares, palavras, sensações e pensamentos
Não fazem o menor sentido numa paisagem estranha
Numa paisagem que continha todas as paisagens
Como se todos os pensamentos fossem pensados
A um só mesmo tempo...

... esses delírios continuam renitentes, de que lado estou da realidade?
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 03/05/2010
Reeditado em 08/08/2021
Código do texto: T2233627
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