Banana da feira
Outro dia fui à feira
e vi o homem gritando feito louco,
mas poucos
o escutavam.
Berrava muito.
A senhora de lenço preto na cabeça,
passava prá lá e prá cá e comentava:
Mas como berra essa banana!
O feirante gordo e peludo, com cara de astuto,
berrava muito.
A senhora de lenço branco na cabeça,
passava prá lá e prá cá e comentava:
Mas como berra essa banana!
Mas poucos
o escutavam.
Berrava muito.
A moça dos ovos de ouro,
corria atrás do dinheiro,
e vi o homem gritando feito louco.
Minha banana está aqui!
Mas poucos
o escutavam.
Berrava muito.
O sol quente queimava a pestana
do bode solto na rua.
Coitado,
estava à venda e não sabia...
Mais tarde morreria prá saciar a barriga vazia.
Seu João bananeiro,
que não vendia banana,
suava...
O suor escorria e caia,
sobre a fruta madura.
Sem cura sofria num canto,
o aleijado no chão sentado,
esperando a banana maçã
prá matar sua fome.
A barraca pendia pro lado e balançava
ao sabor do vento forte,
e Beto camarão sorria
sem dente na boca,
mostrando o desgosto de bolso vazio.
Mas a banana agora vendia...
E vi o homem gritando feito louco,
mas poucos
o escutavam.
Berrava muito.
Sentado e olhando tudo estava o soldado
armado de fome e de mãos vazias.
Coitado,
não deu prá nada...
Na vida se perdeu e virou
escravo da solidão.
Me lembro que na frente,
um caldo de cana
caía verdinho no copo do menino chorão,
e a mãe dizia...
Segura meu filho, que a coisa tá preta,
e o branco tá solto na rua.
João alfaiate de calça curta,
comprava banana.
O homem gritava.
Moça bonita não paga,
mas também não leva.
O peixe vermelho nadava
em água suja,
mas tava limpo,
e o dono falava,
Compra comigo moça,
não vá embora,
não fuja.
As flores verdes de ternura,
murchavam deitadas,
atrás das verduras.
A barraca da macumba
defendia suas cores
de vermelho e branco
e o preto em prantos,
chorava
a dor da traição.
A senhora de lenço preto na cabeça,
passava prá lá e prá cá e comentava:
Mas como é bobo esse sujeito,
numa feira tão boa como essa,
vem prá cá com dor no peito?
A senhora de lenço branco na cabeça,
passava prá lá e prá cá e comentava:
No fim da feira tão vendendo banana
com preço baixo,
e o dono da barraca não tem voz,
e nem estudo,
parece mudo,
um tanto carrancudo.....