Os loucos também são poetas
No ventre de minha mãe cresci como o fermento empurra a massa do pão.
Minha mãe de tanto eu empurrar não me aguentou, empurrou-me para fora.
Abri os olhos e comecei a ver todas as coisas que se empurram:
a semente racha e empurra a terra; o vento empurra a tempestade;
as ondas do mar se empurram; as rodas empurram o carro;
o coração empurra o sangue; as pessoas se empurram para passar;
a correnteza empurra o barco; o rico empurra o pobre;
o focinho do porco empurra a lama; o arado empurra a terra;
para fechar a porta eu a empurro; para tocar empurro o teclado;
para varrer empurro a vassoura; a água fervendo empurra as bolhas.
Tudo o que repele empurra: acordei-me empurrando a coberta.
Quem não empurra não vive, mas vive para empurrar.
É uma empurração generalizada, me arrepia...
Meu amigo quando se despediu deste mundo lhe puseram as vestes
na base do empurrão – empurraram seus pés para dentro do sapato;
em cima da sua cova empurraram um montão de terra.
Termino esta empurrando as teclas do computador.