Os loucos também são poetas

No ventre de minha mãe cresci como o fermento empurra a massa do pão.

Minha mãe de tanto eu empurrar não me aguentou, empurrou-me para fora.

Abri os olhos e comecei a ver todas as coisas que se empurram:

a semente racha e empurra a terra; o vento empurra a tempestade;

as ondas do mar se empurram; as rodas empurram o carro;

o coração empurra o sangue; as pessoas se empurram para passar;

a correnteza empurra o barco; o rico empurra o pobre;

o focinho do porco empurra a lama; o arado empurra a terra;

para fechar a porta eu a empurro; para tocar empurro o teclado;

para varrer empurro a vassoura; a água fervendo empurra as bolhas.

Tudo o que repele empurra: acordei-me empurrando a coberta.

Quem não empurra não vive, mas vive para empurrar.

É uma empurração generalizada, me arrepia...

Meu amigo quando se despediu deste mundo lhe puseram as vestes

na base do empurrão – empurraram seus pés para dentro do sapato;

em cima da sua cova empurraram um montão de terra.

Termino esta empurrando as teclas do computador.

Helmuth da Rocha
Enviado por Helmuth da Rocha em 30/04/2010
Código do texto: T2229150