Uma palavra passou por aqui
Rápida, ríspida, repentina, rasteira
Sorrateira, deixou um rastro de poesia
Um vestígio imperceptível de poeira
No brilho de um último pensamento
Uma palavra passou por aqui
Veio de por entre as árvores, de leve
Serpenteando com o vento da noite
Deixou meu olhar perdido na distância
Na exata distância entre o vazio e o nada
Uma palavra passou por aqui
Límpida, clara, transparente
Com aparente ar de resposta
Silenciada no entanto no estrondo
No escombro escuso de uma pergunta
Na ruína miserável dessa indagação
Uma palavra passou por aqui
Veemente, consistente, contundente
Com um tridente de significados ocultos
Deixou um resto de luz antes do sono
E soou nítida como notas de um réquiem
Uma palavra passou por aqui
Inteira, íntegra, verdadeira
Deixou um vácuo de vontade
Que espalhou pelas ruas todas
Invadindo como garoa fina a cidade
Uma palavra passou por aqui
Única, improvável, inquestionável
Cegou os olhos dos tais profetas
Calou a voz de tantos poetas
Deixou este silêncio na imaginação
Na fronteira tênue entre poesia e prosa
Na barreira entre razão e emoção
Abalou as estruturas dos sistemas
Quebrou as cadeias dos discursos
Deixou os sábios repletos de incertezas
E transformou tudo em beleza
Deixou este deserto no meio do peito
E onde havia desequilíbrio e desespero
Deixou a esperança de um lindo poema
De um simples verso puro e perfeito
Deixou uma tocha acesa no coração
Deixou este simples rastro de inspiração
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 29/04/2010
Reeditado em 08/08/2021
Código do texto: T2225982
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