Arte de Versar
Escrever é marcar o papel com tinta de sangue
Os princípios, próprios réus e juízes
Se não há ética no escrever, não há amor no verter
Nem há verso com embriaguez pungente
A gente esvai e não sente, a língua adormece.
Poetizar com afinco é preencher o útero da imaginação
Com as tipóias mosqueadas da inspiração, é farejar auspicioso céu
Se não há identificação com a escrita, não há alimento
Fundida à hipocrisia, vem a mente corada com vertigens.
Não se iluda com versos sem generosas alíquotas de zomol
Sem a casta vastidão dos enxames em labor, sem o pão
Não se engane, não!
Os versos que rezam são os que prezam, os que se encerram.
Versejar é desalojar trapas e trazer os couros, cravejados ou não
Ativos sonhos são misturadores delicados, movem sentimentos
O âmago do poeta é sacro, canonizado seria às portas nossas
Pintar a tela da vida com as cores que só a aquarela poética contém.
Zus!
Encantar é a conseqüência solta na capa do poeta
Os meios são imprescindíveis campainhas cerebrais
Não se justificam agnósticas palavras sem o dom da escrita
A veia inflama de fúria o peito, suscitando enchente à alma.