NA CAMISA (Beatriz Oliveira)

Há uma camisa de força apertando meu peito.

Enrola-me os braços, as mãos, os dedos,

Prende-me o pescoço, o queixo, a boca.

Somente meus olhos podem falar por mim.

Ando por aí, presa, clamando com os olhos,

Pelo ar que já não existe à minha volta.

Por mais que tente, eu não posso respirar.

Minha agonia é tomada por torpeza,

Pretensão e loucura e ninguém vê

Que é verdade: sua ausência é a camisa.

Quero despir-me e andar nua de ausências,

Nua de solidão, de tristeza, nua de insônia...

Quero vestir sua camisa de malha azul clara

E andar pela casa, com os braços soltos,

Com os seios soltos, prontos para a sua boca.

Quero respirar leve, livre e adormecer de cansaço

Depois de suar na camisa.

Eu só preciso que você desate o nó, nas minhas costas...

Beatriz Oliveira
Enviado por Beatriz Oliveira em 25/04/2010
Código do texto: T2218968
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