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DIA DE CHUVA


...E esta chuva mansinha a benzer os telhados,é reza que acalma,afasta o quebranto.
Aguça os sentidos,traz ao pensamento memórias retidas nos sótãos à dentro.
Evoca lembranças e aos solavancos me leva na marra saltando barrancos.
Já não sou criança, me sinto ofegante,mas venço no tempo os "senões e porquês".
Ainda que encontre na minha escalada o frio do asfalto,não mais urupês.
Nem campos abertos em claras manhãs,de urtigas,riachos,
 frutas temporãs...
Nem velhos amigos,estilingues,anzóis...
O choro das *jornas* no interior dos paióis.
Guerra de sabugos,ratos enfartados
De susto em desvãos de celeiros fechados.
Nem  berros  adultos a impor valentia...Tentativas de ordem à tamanha algazarra nas tardes de chuva,de lama e de farra.
...E esta chuva mansinha a benzer os telhados
Vem curar-me dos males,tirar "maus olhados"
É  choro quietinho a rolar na vidraça
É criança mimada em mais uma pirraça
Se achegando brejeira a pedir cafuné...
Bolinhos de chuva,chaleira chiando...
Afeto,aconchego...Odor de café.


*jornas*- espécie moinho artesanal para triturar grãos de milho.Deixados nos paióis ,eram utilizados nos dias chuvosos quando não se podia trabalhar na lavoura.Seus ruídos eram marcantes e a piazada reunia-se nos celeiros nem tanto para trabalhar,mas para tocar a maior farra orquestrada aos choros das jornas e as chuvas de dias inteiros.