Sinfonia de silêncios
Procurei tirar nas partituras notas para que pudesse compor uma obra inesquecível. Quis fazer uma viagem no tempo numa alegoria de ritmos, renovando a musicalização e fugir dos clássicos que tanto estudamos através de Sebastian Bach. Claro, sem relegar o reconhecimento do grande gênio em suas Cantatas e Paixões, que o consagrou merecidamente.
Tampouco quis seguir os passos das belas melodias do maravilhoso mundo musical clássico representado nas composições de Mozart, Bizet, Rossini, Tchaikovsky, Schubert e tantos outros imortais.
Busquei algo que diferenciasse em estilo, variações de tempo...
Não encontrei nada que me conquistasse, me fizesse apaixonar, nos sons que tentava arrancar no violino, violoncelo, cravo, flauta e piano. Desanimada, encostei meus instrumentos e desisti.
No canto do meu refúgio, deitei-me sobre a esteira, fechei os olhos, tapei os ouvidos. Joguei minha concentração para o universo de possibilidades que existiam dentro de mim...
E, nas asas da canção, me dei o direito de flutuar. Fui captando os sons que surgiam do meu interior contrariando os paradigmas que construímos ao nosso redor, influenciando e procurando desculpar o que não conseguimos fazer.
Lá, no âmago, comecei a deparar com as notas mi bemol, sol sustenido, dó maior...
Então pude compreender a inutilidade da minha busca. Naquele momento estava a compor o que não tinha padrões técnicos de execução. Estava criando um desafio para os virtuoses e a reivindicação à fama imorredoura...
Um arranjo intencional, sem título, e, que não precisava de nenhum instrumento de sopro ou cordas para ser executado. Porque o som decorrente da minha melodia era integralmente intocada, não precisava de sonoridade. Nascia da alma, onde criara a maior obra-prima. De onde nascia a mais bela sinfonia. A Sinfonia de Silêncios...