ANGÚSTIA DE SER NADA

Sou fácil de ser esquecida

Passo pela vida das pessoas

Sem deixar marcas de fogo... ou de água

Muitas fingem nunca terem me visto antes

Crio assim, de mim para mim mesma, um anonimato

Que me faz ser a cada momento mais invisível

Às vezes esta certeza parece rasgar a minha alma

É como uma não existência insistente

Que vai me transmutando de nada em nada

Não deixo saudade

Nem mesmo cicatriz

Sou uma desconhecida

E nem eu mesma saberia me identificar

Talvez eu não esteja aqui

Talvez eu não seja ninguém

Este talvez quase absoluto

Faz não me enxergar no espelho

Nem mesmo perceber o tempo que passa

E esta sensação angustiante de calma

Passeia tortuosa pelas minhas veias

Já despidas de sangue

Talvez eu seja imortal e não saiba

Seja um fantasma a atormentar o que sobrou do que fui um dia

De qualquer forma

Isso não importa

Porque mesmo não existindo

Eu sinta cada gota de sentimento

Que se derrama no asfalto

Na chuva a lavar as janelas

Nas frestas de onde observo

A minha não vida.

E, ainda sim,Sinto dor, amo e amarro uma saudade no peito

Que mais parece um estilete a rasgar a minha pele fio a fio

Talvez a automutilação deste meu não ser nada

Um dia, quem sabe, me permita ser gente.

18/04/2010

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 18/04/2010
Código do texto: T2204579
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