Figura Estática

Solitária figura estática
Cabelos desalinhados ao vento
Vento que marca o tempo...
 
No lusco-fusco, o tempo
Delineia apenas a sombra
De um perfil altaneiro e nobre
Trespassado de aflição e dor.
 
A vida não ousa, sequer,
Tocar com algum dedo fino
O corpo, quase divino,
Protegido por uma brilhante armadura.
 
Só o vento tem coragem
De ficar
E assobiar.
O vento que marca o tempo...
 
Chega devagar a noite fria,
Tudo envolvendo.
E para,
E contempla,
E respeita tanto sofrimento,
E jamais se descuida do vulto imóvel.
 
Cheia de luz e cor,
A aurora sucede a noite.
E, perplexa, vê que lhe foi legada
A grande e importante missão
De despedir o vento,
E insuflar vida àquela estátua.
 
Sem o vento que marca o tempo,
Desaparece o invólucro brilhante.
A vida toca-lhe o semblante,
E a figura estremece,
E, lentamente, se movimenta
Para o recomeço a que tem direito
Depois de tanto esperar
Pelo alvorecer de uma nova era.
 





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