Embasado em nada

Corria...

Corria meu corpo rumo ao nada,

mas o nada me refletia as dores mais agudas.

Quão agudas... e eu, sempre grave, tombando aos passos,

co'os medos todos, alinhados na fumaça dos meus cigarros.

Corria...

Corri, e foi medonha a cena, e foi medonha a ira.

Sabia que o nada me aguardava,

sabia que ao nada voltaria,

sabendo que nadas se acabam.

Acabei-me no nada,

destrui-me no nada...

...e quando me dei por morto, a vida me apareceu empacotada,

junto à lareira, junto às porções de brasa que ainda me aqueciam os pulmões.

Tornei... e, tornado aos vivos, permaneci um nada, só que agora

caminhante, sem predisposições ou motivações para tanta correria.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 16/04/2010
Código do texto: T2200517
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