Desapego
Certas horas, como agora,
ocorre-me um sopro no peito,
que leva qualquer coisa embora,
feito ventos de outonos sobre folhas mortas,
e de repente, quando percebo,
tenho nada que me pese na galharia torta,
é tudo tão leve, ameno, perfeito!
Que até o própio peito torna-se pequeno,
e então, cabe quase nada,
tão pouco qualquer mágoa passada.
E ao passo que sopra, me desapego,
deixo as minunciosidades, e o extremo, tudo ir,
no entanto o que tiver de ficar,
deveras não vai querer partir,
já aquelas coisas que a gente solta,
e logo sai correndo mundo a fora,
é de posse alheia,
por isso nem volta...