Das esperas, das saudades e dos cotidianos previsíveis
Fica a marca no rosto. O sangue pisado.
Um travesseiro cheiroso. Ficam pontos seus em todas as cortinas.
Fica ainda aquele espaço vazio, como um copo d'água recém bebido. Fica aquela coisa de espera, como um operário que percebe que acabou de perder seu ônibus enquanto lia a bula do remédio de pressão.
Fico sozinho.
E ainda fico meio assim, como um chiclete jogado fora, ainda doce.
Assim, como um estofado quente, logo assim que alguém levanta. Sozinho como uma tampa de privada aberta. Como uma lata de molho de tomate da marca de sua preferência descartada pelo prazo de validade. Uma garrafa pet vazia.
E eu espero. Espero como um doente na fila de atendimento. Como um empresário do ramo de gestão de petróleo e gás espera uma ligação de um outro empresário, do ramo da gestão de poemas que pretende lhe oferecer uma proposta irrecusável e altamente rentável.
Espero como aquele senhor de terno que nada mais tem a fazer e senta no banco da praça esperando alguma coisa que ninguém (nem mesmo ele) faz idéia do que seja.
Espero.
E toda vez que eu seco o rosto, me lembro de você.