Hoje

Hoje, apenas hoje, eu quero o mais perfeito dos pedacinhos de anis para poder pintar e tingir de céu todos os cacos manchados com aqueles papéis, todos feios e sem vida alguma.

Hoje, somente hoje, eu quero a rubrica mais formosa, pois não me importa o “amanhã”, muito menos o “pretérito imperfeito” do meu passado negro, e que assinam em baixo o brado.

Hoje, apenas hoje, dedico o meu egoísmo somente a mim, também desejando uma daquelas luas retilíneas e contínuas bem vibrantes por toda a extensão do céu, e que ela não se apegue às faces, nem ao menos ilumine a burocracia do enluarar pela floresta inteira, escondendo assim os seus aromas incríveis. E ainda, enquanto me restaura, dia após dia dos massacres da donzela de ferro, que ela, como lua, não se esqueça de minguar minhas navalhas trepidas.

Hoje, apenas hoje, eu me basto na solidão e no mundo em que as quatro paredes do meu quarto se tornam, e me contenta, muito me contenta, o silêncio na aptidão da lanterna dos revogados, dos neurônios ao ferver e das borbulhas dos meus miolos em pensamentos.

Hoje, logo hoje, desejo as maçãs mordidas, abocanhadas, e de preferência, em foco, as mais envenenadas pelas maldosas bruxas dos contos de fadas, esperando hoje, apenas hoje que todo dia, presentemente, eu queira algo tão “hoje, apenas hoje”.