EM MEMÓRIA

Do corpo crivado de balas um nada

Só a poça de sangue já escuro pelos dias ali jogado

Que tristeza senti frente aquela imagem

Por que, me perguntei e sem resposta abandono

A multidão curiosa e incrédula ao que via.

Aos que antes de mim vieram

E se foram para que eu tivesse voz

Então não devo trair àqueles que se foram

E não ceder aos negociadores de princípios.

Dizem que sou louco por pensar assim

Pode ser, e que seja, não me interessa o que acham

Mas ao discurso da servidão voluntária

Não participo do coro que dia a dia vejo aos montes.

E adentrando à mata já não mais virgem

O que resta dela senão doces imagens congeladas

E nas fotografias os irmãos e amigos

Alguns ainda vivem outros já se foram

E fica a saudade e o carinho daqueles dias.

E se à praça já não mais existem os pombos

Os milhos antes lhes atirados em dias de pensamentos

Nada mais resta senão a imagem da canção

Reproduzida aos montes e nas passeatas.

E às ruas por gente tomada

Quem ousará enfrentar aquela gente

Que por si e pelos que já foram

Não cede ao louco do trono que não conhece o povo.

E o povo que se mistura num nada e num todo

Avança conduzindo seu caminho

E a história que não pára um nada se quer

Se faz porque é caminhando que se faz o caminho.

E aos que antes de mim vieram e partiram

Sou-lhes grato também pelos meus irmãos, amigos e filhos

E sabendo que não os trarei de volta

Quem sabe por palavras digo o quanto agradeço.

E se tudo pode ser numa palavra resumida

Digo obrigado, obrigado, obrigado.