PRÓLOGO - O Lado Mordido da Maçã

Prólogo

O perfume misturava-se ao cheiro de sangue...

Foram às únicas palavras que consegui escrever, de mão trêmula e coração disparado. Olhos abertos diante do medo – Eu não arriscaria fechá-los. Paralisado, exausto... Sem conseguir escrever mais nada no papel. A luz mansa crepuscular invadia em silêncio, formando um retângulo comprido e amarelo na tapeçaria. Ela estava caída aos pés da cama, o corpo parado, os olhos fechados, como se houvesse mergulhado num sono profundo – Rosto pálido, lábios rosados. A mesma beleza que admirávamos nos festins do Jardim das Delícias, tão graciosa quanto uma criatura angelical saída dos quadros de um pintor pré-rafaelita. Ergui os olhos... A brisa quente soprava, agitando as cortinas manchadas de sangue.

Desejos verberavam – Bruscos como golpes de machado. Tudo ao redor ganhava uma importância aos olhos, semelhante aos instantes de lábios selados após a pequena morte, tudo ganhava vida própria, como cantilenas enlouquecidas, manifestações surreais ou forças opostas em um horror dantesco. Enquanto a brisa soprava desesperada, as cortinas dançavam num vigor irritadiço, o instrumento que me fizera um assassino ainda estava perto do corpo... Sangue e fios dos cabelos nas cordas rompidas.

Resultado do golpe atroz, em um maldito violino.

Jean Levi
Enviado por Jean Levi em 13/04/2010
Reeditado em 17/04/2010
Código do texto: T2195508
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