O anoitecer
À noite,
Como toda noite,
Eu saio à rua a me procurar.
Quando me encontro,
É uma festa!
É uma festa!
Escrevo na testa
O sorriso enrustido da busca.
Não sei o que busco
Cá dentro de mim;
Nem sei o que sou
Ao saber que me achei.
Vejo-me no espelho do carro
Na submissão do esparro...
Tiro-lhe um sarro!
Bebo-lhe o escarro!
Sinto-me nu por dentro d’alma
Quero o calor que acalma
Perco meu rumo na sauna
Sou o que sou nessa fauna.
Homem que foge de tudo
Louco que escreve no muro...
Esmurro!
Esmurro!
Sou vagabundo
Sem corpo e sem fundo
Andarilho perdido no cume
Da luz fraca de um vaga-lume.
Costumo esgueirar-me nos bares,
Sugando a cachaça que esquenta:
“Quem me agüenta
Na briga que destrói os lares?”
Quero pares!
Sou número ímpar,
Um primo de mim
Início sem fim
Sedento e cedido
Paz e conflito
Amante e aflito
Curado e partido...