[O Cheiro da Loucura]

Eu sinto, mas não defino;

penso, mas não diviso;

avalio, mas não pondero;

sei que não é nada,

e não tem importância;

mas eu sinto...

Outros me apontam,

me sabem, me desenham até;

mas, eu mesmo vivo sempre

a uma distância [muito] insegura de mim.

Eu não quero nada,

eu não preciso de nada,

eu não sei o que é "nada" -

a loucura: é sentir cheiro

de dinheiro queimado?!

Definir os outros, é tarefa simples;

quem eu mais estranho sou eu mesmo!

Eu sou muito desconfiado...

Mas nunca queimei dinheiro!

Pois então... se não sei o que é,

se não vi, donde essa falta,

[e sinto toda a falta do mundo!!],

por que este abismo?

Há de amanhecer, há sim;

ainda hei de amanhecer,

de sentir o gosto de terra

numa chapada amanhecida

da minha vasta Minas...

Hei de deixar estas minhas pernas

podres, apodrescentes, caminharem

nos rasos, trilharem os restos da noite,

seguirem as pegadas do lobo guará,

os rastos de cobras na poeira.

Estará ali, perdido entre as lobeiras,

O meu nada, o nada que os meus olhos

não conseguem divisar? Quem sabe?

Faltam-me asas, sobram-me desejos...

Que paisagem me tem, me move?

A loucura tem cheiro, tem cor?

Loucura, loucura mesmo,

é a gente nunca parar de vir...

[Penas do Desterro, 11 de abril de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 11/04/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2191144
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