NÃO VALE A PENA VER DE NOVO

E a criança que a tudo observava

Palavra não sabia pronunciar

Nem tão pouco descrever o que via

Então só olhava.

A pouca idade que não autoriza decifrar

Os segredos como num cofre guardado

A tudo via qual testemunha ocular do tempo.

E o tempo que não tem face nem foice

A cortar o que não se agrada nem se quer

Impõe minuto a minuto suas diretrizes

Porque não se controla o que é autônomo.

E a cidade que cresce em frenética vontade

Como a adolescente e tantas outras

Cheias de dúvidas e incertezas se é o que deseja

Apresenta-se como num baile de quinze anos

E se exibe aos olhos arregalados dos convidados.

E sob a noite que avança para dar descanso ao dia

Que reinou sob o Sol sucessor da aurora

Da noite substituta como numa roda que não pára.

E àquele que na multidão se vê só

Não desconhece nem ignora o que a sua volta está

Desliga-se da massa inerte e letárgica

Que não vê na flor o começo do jardim.

Acostumada às ordens seguir e não questionar

Contribui para que outros nos postos de comando

Sem armas e apenas com leis a toque de caixa

Aprovadas em satisfação da vontade de um.

E já sem forças para a ação

Tão necessária e resistente

Presa fácil se torna ao ditador que nasce.

E o silêncio no início contido

Agora impede a revolta já tardia

Pois a des (ação) no começo prorrogada

Voltou-se àqueles que a tudo calados assistia.

E já dominado e sem razões para a luta

Entrega-se a si e aos seus que depois dele vieram

E a roda que não pára

Repetirá uma história já conhecida.