Fio da vida

Por um único fio atado á vida.

Tão frágil e até mesmo insensato

Que chega ser uma quimera...

Um grito de espera preso a garganta

Um lance final...

E por fim a agonia da insônia.

Medonha criança que não quer adormecer

No fio da navalha...

Canalhas noites vãs assentadas no divã

Analisando a possibilidade de uma vida sã.

Em sã consciência esquecida...

Dormente nos trilhos que passaram

Por onde o bonde faz a curva

E turva a visão do incabível.

No invisível fio que nos separa

E ao mesmo tempo ampara a condição

Que nos promete e nos arremete

Aos sonhos que passaram.

E, de tão ocupados com nossos planos

Não percebemos quão longínquos

Estão parados no tempo os traços da vertigem

Que dão origem a toda essa estória...

Perdida em algum mundo em que passamos.

Indelével são as marcas

Estampadas nas faces de uma era.

Nas ruínas de uma vida obstruída

Pelo desejo de se ser verdadeiro

E mostrar que a beleza do amor

Não tem tempo.

E que o vento não virá para levar

Tudo que construímos debaixo dos olhos da pureza.

Mas, que a beleza da nossa época foi corroída

Pelas traças da miséria do desejo

Que nunca será saciado pelo imediato prazer.

E, esse único fio que nos une

É também, toda a sorte que nos foi lançada

Pois está amparado pelas linhas do cosmo

Dando-nos a possibilidade de sermos verdadeiros.