Ressurreição

Sugeri aos meus instintos a permanência no poço !

E é fundo, obscuro, cheio de nada, cheio de mim.

E clamei por perdão, e perdoei minhas falhas, e busquei uma santa luz,

e não enontrei uma santa paz.

Quem dirá todas as verdades?

Quem, verdadeiro ou derradeiro, há de me acompanhar na escuridão?

O poço é único. Eu, também.

Converti-me em inseto, mantive-me muitas vezes anfíbio, fabriquei minhas ilusões, alimentei as imagens dos sorrisos.

Passei sem sorrir. Nada se reflete na escuridão, nada vive no poço, além de mim. NADA !

Mas, a estrutura dócil, o sorriso puro, os olhinhos apertados e brilhantes do garoto do berço me fizeram mudar, mudar na contramão, mudar na ressurreição.

Ressurgi.

De fato e de verdade, alpinista em poços, cavador do infinito, o que busca o mesmo sorriso.

E o pequeno me disse: Vai, pai. Não é a profundidade do poço que te faz um maior miserável, mas a tua incapacidade de abalar o mundo é que te leva aos abismos mais vis !

Ressurgi.

Agora, com outro sorriso.

Agora, dominador e vencedor.

Venci a apatia.

Sangrei minha pequenez nos limites do inferno, tornei-me o pai do filho, o espírito sorridente que esteve ausente durante tempos.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 09/04/2010
Código do texto: T2187421
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