Donzela em chamas.
Agora dorme a princesa perdida em algum lugar do passado. Ela espera por dragões que vêm rastejando do outro lado do mundo e morrem afogados no pacífico; por príncipes pigmeus em seus cavalos tordilhos. Enquanto espera, conta as estrelas no céu, que já têm nome, desejando encontrar a que lhe fora prometido nomear como sua homônima; procura as marcas de Ascalon nas crateras lunares.
Ela veste-se de noiva em frente ao espelho com seu lençol que já fora branco um dia, e desenha com batom sua própria boca ávida por beijos um tanto indecentes. Pentea seu cabelo com tanta força, que, ao final, parece uma bela seda tingida de negro, um pouco desbotada...
Tanto ela espera sua estrela, que, todas as vezes que ouve o barulho da carruagem de Apolo, ainda distante, chora com uma dor no peito causada pelo seu coração frenético, mas logo depois se aborrece: vê que Apolo, com sua estrela,acaba por afugentar a noite e a estrela dela. Ela não gosta do Sol, e gargalha loucamente para a lua quando esta sobrepõe-se ao astro-rei.
Triste donzela que tem seu quarto iluminado pelos brilhantes raios solares! Ao amanhecer, ela acaba vendo seu rosto cada vez mais nítido, com todas as suas rugas e lágrimas, e quer encontrar nos sonhos a dormência necessária para contar as estrelas, ainda incandescentes em suas pálpebras. Mas o seu nome nunca aparece.
Torço para que ela e sua estrela se encontrem um dia. Tenho medo de que, quando isso acontecer, a donzela já não tenha mais um nome.