O OUTONO DESABA
Chove torrencialmente, e aumenta a minha solidão. É patética esta sensação de iniquidade. O jeito é criar qualquer texto pra que se possa sentir a humanidade viva, já que os elementos desabam entre relâmpagos. Tudo está imóvel em terra. Somente a Palavra resiste, estática. O céu está gris e a luz parece estar ausente. Acho que Deus dorme nalgum abrigo. Ou está quieto, mandando forças pros milhões de rezadores que O imploram. Debaixo das camas brilham as retinas de minhas gatas de estimação. Estranho! Nos humanos, quando há medo, os olhos são baços. E, num repente, retine em mim a infância. Seus fantasmas ainda pertinem sob os lençóis. As meninas dos olhos teimam em não abrir...
– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2012.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/2181196