Alfazema

Queria que chovesse prá poder chorar sem que ninguém perceba, queria um vento prá esconder meu rosto com os cabelos, queria meus cabelos compridos, queria um vestido de festa, uma festa prá sair à francesa, um algodão doce, um cata-vento, queria uma montanha russa prá gritar e ninguém ouvir.

Queria dividir meu silêncio em partes e deixar que amanheça.

Uma vontade nova, um novo segredo, fingir que agora são cinco horas, que a noite ainda não veio, que amanhã tudo melhora.

Queria que a manhã melhorasse meus medos.

Uma coisa banal, uma pedra falsa, meu perfume de alfazema, uma rua prá andar descalça, fôlego prá perder de vista, pernas prá querer mais, um mar prá pousar meus olhos e um lugar prá onde voltar.

Queria um balão colorido que me levasse pro alto, olhar de cima o asfalto, ver aonde isso vai dar.

No tampo da mesa os papéis, os livros e o tempo, o tempo, a poeira nos olhos que me vigiam, a incerteza, meu calendário de perdas e eu assim: querendo coisas.