Tecido de vida.
[À boneca de porcelana, com seu vestido de pano que se escondeu no jardim]
Somos tecido.
Tecido de vida que se fia ao nascer, que se fortalece em mãos boas, que se rasga com o uso, que apodrece com o tempo.
Que desfia.
Desfia o tecido pelo uso, seja ele bom ou ruim, a vida desfia com o uso, seja boa ou seja ruim, ela fica frágil e sem substância, porque o tempo faz da vida, uma vida morta em si e que desfia.
Tecido que rasga.
Rasga como pano e o remendo é notório. Como o tempo que cicatriza, mas deixa resquícios do seu caminho.
Desfia e rasga.
Rasga como consequência do desfiar... Diz-me, carta que morre no silêncio, pano que desfia não rasga? Rasga! Assim como o viver que se desgasta. Morrer é rasgar, sofrer é desfiar.
Tortura de pano é remendo.
Remendo que usa agulha. Vida que usa remédio. Agulha dói, remédio fere. Remendar a vida é fazer de nós um pedaço de pano ruim. Porque pano remendado fica mais barato. Tudo que é barato é acessível. O acesso a todos, não é selecionado, pode, portanto, mesmo quem não mereça, ter um pedaço da sua vida.
Vida que desfia, morre.
Morre porque é frágil e depois de um tempo nem mesmo o pano velho aguenta ser remendado e se decompõe em vida...
...
[portanto bonequinha, não tenha medo de perder seu vestidinho de pano, que lhe cai tão bem. Quando morrer, desfiarão: você e ele]