Tecido de vida.

[À boneca de porcelana, com seu vestido de pano que se escondeu no jardim]

Somos tecido.

Tecido de vida que se fia ao nascer, que se fortalece em mãos boas, que se rasga com o uso, que apodrece com o tempo.

Que desfia.

Desfia o tecido pelo uso, seja ele bom ou ruim, a vida desfia com o uso, seja boa ou seja ruim, ela fica frágil e sem substância, porque o tempo faz da vida, uma vida morta em si e que desfia.

Tecido que rasga.

Rasga como pano e o remendo é notório. Como o tempo que cicatriza, mas deixa resquícios do seu caminho.

Desfia e rasga.

Rasga como consequência do desfiar... Diz-me, carta que morre no silêncio, pano que desfia não rasga? Rasga! Assim como o viver que se desgasta. Morrer é rasgar, sofrer é desfiar.

Tortura de pano é remendo.

Remendo que usa agulha. Vida que usa remédio. Agulha dói, remédio fere. Remendar a vida é fazer de nós um pedaço de pano ruim. Porque pano remendado fica mais barato. Tudo que é barato é acessível. O acesso a todos, não é selecionado, pode, portanto, mesmo quem não mereça, ter um pedaço da sua vida.

Vida que desfia, morre.

Morre porque é frágil e depois de um tempo nem mesmo o pano velho aguenta ser remendado e se decompõe em vida...

...

[portanto bonequinha, não tenha medo de perder seu vestidinho de pano, que lhe cai tão bem. Quando morrer, desfiarão: você e ele]

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 05/04/2010
Reeditado em 20/04/2012
Código do texto: T2178338
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