Crônica de uma morte anunciada
Já não se obtinha os mesmos efeitos com os quais havia construído seu doce sonho azul. Precisava de distração e outras formas de sentir o mesmo, sentia-se preso e ansiava por liberdade, livre, por qual motivo: não sei.
O que se sabe é que os rostos mudaram, o andar menos formoso, a voz menos firme e mais tremula. Precisava de mais, já não estava satisfeito com o que tinha, e os esforços para com ele eram todos em vão. Lembro-me e o que menos me deixa a vontade, é lembrar de como fazia parecer o contrário, e lançava culpa ao que tentava desesperadamente fazê-lo feliz, como a ilusão das poesias que lhe entregava sem nada de volta.
Até que um dia, depois de muitos e muitos dias, num súbito de coragem e santidade, disse: não.
Vagarosamente, incansavelmente, desesperadamente as coisas, todas, buscavam um lugar pra esconderem-se, envergonhadas, frustradas recolhiam-se uma a uma, nas sombras, nos buracos, nos becos... Até que não se podia ver sequer uma, nenhum movimento, nenhum gesto, nenhum bater de asas. Estava tudo em silêncio, como se espera das coisas que um dia falam alto.