Tudo Mais
Não!
Não quero lhe falar de coisas vãs, de vis costumes, do dia a dia, Da coca cola na lanchonete da esquina, do bulício das gentes da cidade, das luzes de néon, do cotidiano.
Saco!
Não me peça para dizer palavras tão normais ou, quem sabe, um verso imbecil rimando amor e dor.
Não quero isso, nada disso!
Aliás, não quero nada de frases construídas, bonitinhas, só para impressionar! tenho os pés no chão, o verso na mente, a cabeça bem pra lá de Bagdá!
Peça-me, por exemplo, uma longa estrada sem fim, o verso tão longe de mim.
Uma distante estrela lá pelos confins da Via Láctea... lá onde toda estrada vai dar na poesia, duvida?
Posso, se não puder trazer estrela e verso, ao menos tentar prender o brilho daquela estrela distante na luz de teu olhar, e há de ser o meu verso doce canção de ninar!
Sabe...
Eu quero a paz do luar derramado numa praia distante, quem sabe um porto no além-mar onde não haja navios,
E nós navegantes sozinhos, cobertos de todos os brios, só nós, nós tão somente nós naquele doce entregar!
Quero o murmúrio da vaga quebrando na areia branca, teu corpo tombando ao sabor do vento norte.
Sobre teu corpo nú eu quero orquídeas, acácias, lírios, todas as flores, todas as cores.
Quero adejar teu corpo, jardim sagrado do colibrí travesso, beber teu mel e, tantos quereres, tantos... é como querer o céu
Quero todos os verbos, todas as frases, todo ciciar de amor num doce mumúrio das palavras que não ouso dizer.
Quero meu verso silente como a brisa mansa de um entardecer, para embalar teu sonho, meu sonho de te querer.
Quero a cadência de um verso lindo, mas foge-me como um potro indócil, aquela frase fatal, da mente dos enamorados.
Quero o silêncio das madrugadas frias, o doce silêncio de um olhar, teu olhar no meu olhar, a paz de teu sorriso, e nada mais...
Nada mais, ou... Tudo, mais!
Olympio Ramos
Cabo Frio, 04 abril 2010