Decomposição

Decomposição

Resta na noite inconcebível a imagem do Nada. Por entre suas ramas e folhagens neutro-escuras estende-se a luz esverdeada, que permanece dentro-externada em cada um de nós. Meus dedos se alinham nos joelhos, e de meus olhos nada tenho, se não, a visão fugidia de meu interior desfragmentado, opaco por entre o peito e os osso cardíacos, que formam uma armadura impenetrável de sangue oco e fétido.

Resta na tarde sonora, o sol quente e vazio que expurga e espreme de meu corpo as feridas, querendo-me fazer correr caminhos à fora, entretanto me internalizando de maneira doentia e abafada. Me torno translúcido como alabastro, seus raios e sua luz atravessam meu corpo sem nenhum sinal de comoção, apenas um calor morno e seguro que se estende até meus dedos, dissolvendo-os em tinta uni-sonora.

Na manhã, não resta mais nada. Decomposto, apresenta-se dissolvido o corpo e a capa. Acusado, as vibrações depostas da lua deixam-se de ressoar por sobre a silhueta, que imaterial permeneia a imagem em mil vultos multi-mórficos, como sombras de essências que ousam escapar de abrigo íntimo, e se expõem diante dos olhos amarelo-carmesim que se levantam ferozmente. Estende-se a não-imagem diante do retrato, e ressonante se compõe multi-angular nas formas e nas faces, que assimilam-se a si, sem entender, ou saber, apenas aceitando-a como conjunção, que intrínseca se funda no Tempo e no Nada; (pois passando a Não-Ser, o Ente torna-se Tudo, pois deixa de Estar).