Q U E S T I O N A M E N T O.



Acordei-me um pouco só
Era até demais a minha
Própria e inútil companhia
Mas, num lampejo ainda
Sonâmbulo e meio confuso
Lembrei-me de ti
E de mim mesmo tive dó
Era o confronto com o existencial
Do ser que não quer ser
Uma luta, um vazio sem igual
Um questionamento sem importância
A importância é a gente quem dá
Por estar só e em relutância
Com o premido do silêncio
Onde só nos rodeia o éter
Pra inconscientemente respirar
A gente pára no tempo e
O inconsciente entra em alerta
Vigia genético que nos cutuca
Com estímulos e feixes de sinapses
Sacudindo o mecanismo pensante
Do cérebro, esse pequeno gigante
Cúmplice ativo desse fenomenal
Hábito, o doce vício de viver.
Aliás, é o único vício que se conhece
E que se pega ao nascer
Não há exercício e nem remédio
A boa vontade não se quer ter
Terapia para largar esse vício é só morrer
Morre-se de tudo e de todos
Morre-se de viver? Não, muda-se de viver
Mudança sem malas e outras bagagens
Voa-se sem tirar passagem
Pra mudar de lar e não ter saudades
Do doce vício de viver
Hoje mesmo, eu vou cancelar
A passagem do ônibus etéreo
Não quero, agora, mais viajar
Sou inveterado nesse doce vício
Ele ainda vai me matar
Do doce vício de viver
Quando morrer.



Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 31/03/2010
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